Dificuldades

Hospital Espírita está há três meses sem repasses estaduais

Instituição enfrentou dívida de R$ 3 milhões em 2017; agora, com saúde financeira melhor, lida com o atraso de três meses em incentivos estaduais

Gabriel Huth -

O ano em que o Hospital Espírita de Pelotas (HEP) completa sete décadas de funcionamento não é o melhor ano financeiro para a instituição. Em 2017, a gestão do HEP enfrentou um dívidas avaliadas em R$ 3 milhões. Na época, há um ano atrás, a saída foi pedir ajuda ao município e ao Estado. O alento só veio por parte do governo estadual, mas não com facilidade - foi preciso reunir deputados e vereadores e fazer pressão para garantir quase o dobro de aumento nos repasses de incentivos - de R$ 88 mil para R$ 168 mil mensais. No entanto, hoje, para aflição da administração hospitalar, o repasse do valor está três meses atrasado. Parte dos 220 funcionários também está sem salário em dia devido a falta do recurso.

Maior hospital psiquiátrico da Zona Sul, responsável por atender 94% dos leitos psiquiátricos da cidade e metade da região, o HEP ainda teve de realizar um financiamento de R$ 2 milhões com a Caixa Econômica Federal para continuar de portas abertas. A demissão de 16 funcionários - ainda não repostos - foi outra medida adotada em 2017. "Pagamos uma parte do que devíamos e fizemos um acerto", conta o diretor-presidente Carlos Jardim. Trabalhadores realocados, atividades cortadas foram "manobras para poder sobreviver", segundo o diretor-presidente, e continuar prestando atendimento de 80% ao SUS e 20% para convênios particulares.

De acordo com a gestão, os R$ 3 milhões eram resultado de um histórico de vários anos de problemas financeiros. Além do financiamento, o aumento no valor dos repasses estaduais deu fôlego para a administração do hospital. O acréscimo veio após pressão política dos deputados Pedro Pereira (PSDB), Adilson Troca (PSDB), Catarina Paladini (PSB) e Luís Augusto Lara (PTB), além dos vereadores Marcola (PT) e Daniel Trzeciak (PSDB) e a secretária municipal de saúde, Ana Costa. No entanto, a conquista do encorpado recurso é apequenada frente ao atraso do repasse, que não chega há três meses. O último comprovante, documento enviado pela gestão à reportagem, data de dezembro de 2017.

"O hospital enfrentava uma situação bastante delicada. Depois, conseguimos empatar as contas e tocar a vida do hospital de forma mais tranquila, dentro do nosso planejamento financeiro. Com os R$ 168 mil nós pagamos parte da folha do salário dos médicos e outros compromissos. Com atraso de três meses, toda saúde financeira do hospital acaba desestruturada. Nós atrasamos compromissos, criamos juros e isso direciona o hospital para o mesmo problema enfrentado há um ano atrás", reforça Tiago Martinatto, administrador do HEP. Atualmente, a instituição ainda precisaria de cerca de R$ 1 milhão para colocar tudo em dia.

Sinuca de bico
Procurado pela reportagem, o coordenador adjunto da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde, em Pelotas, Gabriel Andina, disse desconhecer atrasos por parte do Estado em repassar o valor dos incentivos. "Não fui informado pelo hospital nem pela secretaria municipal de saúde", acrescentou. Em seguida, a secretária de saúde do município, Ana Costa, por telefone, também afirmou desconhecer qualquer atraso de pagamento. Porém, no Portal da Transparência do Rio Grande do Sul, onde é computado os gastos realizados pelos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público Estadual e Tribunal de Contas do Estado, não há traços do repasse de incentivos em R$ 168 mil. Para janeiro, fevereiro e março, está comprovado: há somente o depósito dos valores direcionados à assistência médica básica e do serviço prestado ao Instituto de Previdência do Estado. Por enquanto, não há previsão de quando a transferência será feita.

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Esperança no futuro
A saída, frente a falta de perspectivas de chegada do valor, foi ingressar com uma ação judicial contra o Estado. Além do resultado na Justiça, a gestão também aguarda a efetivação do aumento da diária psiquiátrica via SUS, valor editado em portaria do Ministério da Saúde: no caso do HEP, de R$ 49,00 para R$ 82,00 para pagar diária, medicamentos e alimentação. Segundo Martinatto, até então o preço não passou a valer. "Ainda é preciso firmar um termo aditivo com o município que está em análise com a Procuradoria Geral do Município. Esperamos o resultado para o quanto antes possível. Era pra ter entrado em vigor em fevereiro", diz. Com a mudança, a instituição passaria a receber R$ 136 mil mensais. "Vai ajudar a cumprir a folha de pagamento. Se o estado pagar em dia e essa atualização for repassada de fato, acredito que poderemos fazer reinvestimentos, algo que não conseguimos fazer há bastante tempo, salvo quando temos ajuda externa de alguma doação", destaca.

Hoje, só se faz o estritamente necessário: conserto de uma janela, telhas ou vidro quebrado. Investir ainda é um sonho distante - camas, cadeiras de rodas, computadores e demais equipamentos precisam ser realocados, o que compromete a qualidade do local. A conta de energia elétrica atrasada há dois meses é um exemplo da dificuldade. A alimentação dos pacientes também recebe contribuição de instituições como Emater e Biscoitos Zezé. "É muito importante o auxílio da comunidade. Nós sobrevivemos pelas doações", diz Carlos Jardim.

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